Por Liliane Bortoluci
Notícias recentes vêm, mais uma vez, atribuindo ao plástico o papel de vilão do meio ambiente. Uma delas, publicada em dezembro no Diário de Pernambuco, dá conta que a administração de Fernando de Noronha publicou decreto que restringe o uso e a comercialização de recipientes e embalagens descartáveis no arquipélago; entre eles, garrafas plásticas (abaixo de 500 ml), canudos, copos, sacolas e outros objetos que tenham polietilenos, polipropilenos ou similares na composição.
Em que pese a justa cautela de preservar a Natureza em todas suas formas e, em especial, num paraíso como Fernando de Noronha, este é mais um exemplo de como o plástico, e não o uso indevido que se faz dele, acaba responsabilizado por problemas ambientais.
Eu proponho um exercício de ficção: vamos imaginar um mundo sem plástico. Do que seriam feitos os equipamentos e frascos dos hospitais e laboratórios? Quantos dos utensílios e eletrodomésticos de nossos lares existiriam? Qual o custo da maioria das peças de veículos particulares e coletivos?
O que se quer dizer com isto é que o plástico faz parte de nossa vida e sua abolição ou substituição por polímeros biodegradáveis não parece viável no médio prazo. O que urge é uma mudança de consciência na nossa relação de consumo com os produtos industrializados e as embalagens que os acondicionam.
Num país com tantas deficiências na Educação, talvez seja utópico almejar programas de educação e conscientização ambiental. Ainda mais utópico seria desejar a universalização dos coletores seletivos e medidas que garantam a viabilidade financeira da atividade de reciclagem face aos nossos problemas estruturais, onde se estima que 17 milhões de pessoas não contam com serviços básicos de coleta de lixo em suas residências.
Um aspecto fundamental, porém constantemente desprezado, no debate sobre o plástico é sua importância econômica. Artigo publicado pelo SIMPERJ (Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado do Rio de Janeiro) destaca que a indústria de transformação do plástico gera 326 mil empregos (é o 4º setor que mais emprega no País) nas mais de 11.500 empresas atualmente em atividade – a sua maioria microempresas (73% do total). O faturamento do setor é de R$ 62 bilhões por ano, e por aí dá para ter uma ideia da sua contribuição para o erário público.
Em resumo: o plástico é fundamental nas nossas atividades cotidianas, é relevante para a economia do País e, sim, ele é sustentável – desde que cada consumidor, empresas e demais entidades públicas e privadas assumam sua parcela de responsabilidade na preservação do meio ambiente.
E isso pode se dar desde nossa relação diária com o que consumimos até a criação de subsídios, incentivos ou desoneração fiscal para equipamentos e insumos voltados à reciclagem. Não há vilões quando se trata de tornar o mundo melhor. Pode parecer clichê, mas o fato é que o futuro do planeta está em nossas mãos.
Liliane Bortoluci é diretora da Informa Exhibitions, promotora da Plástico Brasil – Feira Internacional do Plástico e da Borracha